terça-feira, 4 de maio de 2010

Angélica Zapata

A trilha sonora é Eagle Eye Cherry, “Comatose” e as taças de vinho estão pela metade. A dela tem uma marquinha de batom. Além de ser extremamente útil para identificar qual taça é de quem, uma marca de batom é algo de se admirar, especialmente quando está numa taça servida com Cabernet Sauvignon Angélica Zapata, safra 2005. Sobre marca de batom (na cueca, inclusive) eu prometo escrever em outra oportunidade.
O sofá é do estilo “podem se jogar que eu agüento o tranco”, e ambos estão virados frente a frente. Não. Não vai rolar sexo essa noite. Eles eram amigos há muito tempo, sempre conversavam sobre tudo, porém não se viam há meses. Portanto, trata-se apenas de uma noite onde as conversas seriam longas e engraçadas. Mulher engraçada é algo raro. Linda e engraçada então, nem se fala. Geralmente, pela Lei Maior da Compensação, as mulheres lindas não possuem um senso de humor aguçado.
Prosseguindo, o que ocorreu entre a chegada dela e o salto de corpos no sofá foram momentos de risadas e conclusões sobre as inúmeras mentiras da vida. Conclusões sobre as verdades não tem graça.
Para que a cena fique mais prazerosa (a despeito das mulheres que vão ler esse texto), descrevo a nossa protagonista da noite. Carismática, energia contagiante e possui todos os atributos físicos que fazem qualquer homem ajoelhar-se. Ajoelhar-se e achar que está muito bem daquela maneira. A voz dela não é sexy. A voz dela é normal, voz de mulher numa Mulher. (Para os desatentos o “ême” está maiúsculo).
Sobre o homem não vou falar nada. Não por machismo, mas sim pelo fato de não ter a habilidade de descrever um homem. Falo apenas que ele era um cara bacana, usava fio dental sabor menta, adorava futebol, apreciava bons vinhos e sabia tratar as mulheres. Pronto. Isso basta sobre o nosso rapazote.
Depois da primeira garrafa, ela propõe:
- Vamos ver as estrelas?
Impossível recusar.
Ambos estão deitados lado a lado, contemplando o aquário de corpos celestiais que a noite proporciona. Ela se vira, os olhos se encaram. O batom já não possui a cor de antes, mas ainda provoca os sentidos de qualquer homem . As risadas altas são substituídas por respirações quase mudas. A dele mais ofegante que a dela, afinal era a primeira mulher que ele ficava a sós depois de ter se separado. Foram 5 anos casado com uma loira-baixinha-possessiva-aguada, como ele mesmo sempre descrevia a ex. A trilha sonora obviamente já mudou algumas vezes, e agora traz Maxwell,“The Suite Theme”.
A Lua estava hipnoticamente conquistadora, era um holofote natural.
Eu me comunico com a Lua, sussurou ela distante agora poucos centímetros do rosto dele.
Um suspiro e ele pergunta mais com o ar de sua boca do que com a voz:
- Agora nesse exato momento, o que vocês estão falando?
- Nada..agora nada. Só antes pedi que ela testemunhasse nosso beijo pra me contar depois como foi...