terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Thanks, Bruce

Ela permitirá você entrar em casa quando bater na porta
A qualquer hora, mesmo tarde, em qualquer noite
Ela deixará você tocar sua boca, se você disser as palavras certas
Permitirá que você repouse junto ao seu corpo e que você fique lá
O tempo que for...
Ela deixará você entrar no seu carro para dirigir sem destino
Deixará você dentro do seu coração, se você mostrar que possui um
Ela irá guiá-lo por uma trilha
Onde existe ternura
Deixará você ir bem longe
O suficiente para saber que ela ainda está com você
Você andou por muito tempo
Quão longe chegou?
A um lugar que não se lembra
E não consegue esquecer
Quando ela olhar nos seus olhos e sorrir
Você saberá que ela tem um jardim secreto
Onde tudo que você quer
Tudo que você precisa
Permanecerá para sempre muito longe de você

(texto inspirado na música Secret Garden - Bruce Springsteen)

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Se isso for certo...

Você surgiu de lugar algum.
Você desaparece e reaparece. Houdini ficaria muito orgulhoso. Queria saber onde você está agora.
Eu posso ficar aqui e especular seus medos, vagar por suas lágrimas, mas apenas quero ouvir sua voz. Por agora, isso me basta.
Há estradas pavimentadas com sinais ao longo do caminho, atravesse de alguma forma. Estarei esperando.
Quero lhe mostrar exatamente o que você significa para mim
Escute o que eu sinto, deixe-me suspirar no seu ouvido.
Eu posso ser o que você quiser que eu seja.
Continuo ainda mais teimoso do que jamais fui.
Eu não irei embora, estou congelado, parado aqui.
Não me moverei até o dia em que tiver você por perto novamente.
Sua imagem me deixa anestesiado. Te vejo nas fotografias em preto e branco para adormecer.
Quero saber de você
Se está tudo bem ...
Ter você por muito tempo, se isso for certo...

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Atrasos relativos

- Te pego às 10 horas então?
- Tá. 10 horas tô pronta. Beijo!
Obviamente que às 9 ele já está pronto. E caso, ele começar a se arrumar às 9 horas, bastam 15 minutos. Os homens ficam prontos antes das mulheres, tanto faz se naqueles casais que já moram juntos ou então quando o homem a pega em casa.
Existe uma regra da demora feminina.
Regra global.
Para ele basta um banho, calça jeans, camiseta e pronto. Pode botar um perfume também, mas isso dá pra fazer enquanto se escova os dentes. Um Curta metragem contaria toda a história. Orçamento baixo e uma equipe pequena bastariam. Não preciso dizer que um figurinista é dispensável.
No caso dela, o roteiro é mais elaborado. Um Longa metragem onde o figurinista seria essencial e precisaria de assistente. Maquiador idem.
Mas isso é normal, tem explicação lógica, já que a mulher aprende que precisa se enfeitar pra sair de casa desde criança. As opções de maquiagem da Barbie são infinitas. A faculdade dos adornos femininos começa cedo. A menina inicia geralmente aos 4 anos e se parar de brincar de boneca aos 12, são 8 anos de especialização. Uma Phd é o que temos.
Mas a maquiagem é apenas uma parte, porque ainda tem a escolha da roupa, que seria facilitada se os armários delas fossem iguais ao da Mônica. Tá, vestidinho vermelho todos os dias ia ficar sem graça, mas a questão é que elas têm tantas opções que se perdem no meio daquele mar de tecidos.
Imagina se todas as mulheres brasileiras doassem 10% das suas roupas? Daria pra vestir toda a população de Serra Leoa (6 milhões de habitantes, segundo a ONU).
Mas convenhamos que a espera é sempre gratificante.
Ela entra no carro, 10hrs14min levemente ofegante, e linda como sempre:
- Desculpa, me atrasei né...
Ele precisa de um tempo pra contemplar, até porque segundos atrás tava olhando pro nada com uma cara de idiota, cantarolando a música que tocava numa rádio qualquer:
- Esperei uma vida inteira pra te conhecer...Depois que te conheci esperei um mês pra te beijar. Esperar alguns minutos, ainda mais sabendo que quando tu chegar vai estar linda desse jeito, não é nada...

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Pretensão

Precisava te ligar pra saber que você não é fruto da minha imaginação.

Pra ter certeza que quando te beijo não é sonho. Precisava me certificar que não aparece somente à noite quando saio de casa já com o pensamento em você.

Tinha que falar contigo numa hora e dia qualquer.

14:37 de uma Quinta feira nublada. Isso é uma hora qualquer. Se você é real, se existe, vai me atender.

Ouvir sua voz no momento em que necessitava, na hora em que ela soaria calma na minha mente como barulho de chuva fina na grama.

Quando ouvir sua risada do outro lado da linha não existirá melodia mais doce.

Quero saber se você sonhou alguma coisa boa, se leu o jornal, se está com fome...qualquer coisa.

Qualquer coisa que seja sua, qualquer sentimento que seja seu e que seja dito.

Me dou conta que sua voz apenas não basta.

Um beijo seu. Sem pressa nenhuma. Até porque, o mundo vai parar para nós.

A fúria do mundo vai ficar do lado de fora. Meu subtexto mostrará o que quero.

Sem preocupações, sem batalhas. Nessa noite, nada mais existe.

O momento é esse. Sombras se formarão a partir do seu corpo. A visão absurdamente linda, perfeitamente desenhada.

Pretensão demais achar que o mundo pára só porque um beijo acontece?!

Bobagem.

Claro que não!

Todo mundo já sentiu isso. Ou então, vai sentir.

Pelo menos, uma vez.

Aquela vez.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Lábios

Eles tinham um acordo, um trato. Para cada minuto de massagem que ela fizesse, ele faria 10 minutos nela. Fair enough.
Mas esse texto é sobre beijo. A massagem foi apenas para situar.
Escrever sobre isso, sobre bocas que se tocam é uma coisa tão batida, parece que não existe mais nada para se falar a respeito.
Mas e quando essas bocas são únicas? São “As Bocas”. Quando se tocam formam um desenho tão perfeito, combinam de uma forma tão especial que até o fechar dos olhos tem um significado. Mas todo mundo fecha os olhos pra beijar, não é?
É.
Mas no caso desse Beijo, o fechar dos olhos serve para mergulhar na escuridão e deixar que apenas o toque dos lábios fale. Ele sabe que ela é linda, que está beijando uma boca delicada, desenhada, combinando com o rosto perfeito.
Enquanto ele vai pegar um copo d água, ela diz:
- Tava pensando esses dias...uma coisa que eu reparei faz tempo... que a maioria das pessoas fecha os olhos quando beijam, só por fechar, sabe??? Porque quando viram um beijo na TV “aprenderam” que tinha que ser de olhos fechados. Fecham porque todo mundo fecha... Na verdade, o bom é quando os olhos fecham porque a pessoa flutua naquele momento, sente o toque inicial delicado dos lábios, esquece do mundo e acredita que aquele beijo é a melhor coisa que existe...tu não acha?
Ele se aproxima, acha graça, um sorriso discreto e não fala nada.
Continuando ela indaga:
- Sobre o nosso acordo das massagens. Para cada um minuto de massagem minha, eu ganho 10, é isso? E para cada beijo que eu te der?
Ele se aproxima, um tom de voz mais assoprado do que falado, perto do ouvido dela:
- Para cada beijo que tu me der, onde for e quando for, prometo que não vou fechar meus olhos apenas por fechar.

terça-feira, 4 de maio de 2010

Angélica Zapata

A trilha sonora é Eagle Eye Cherry, “Comatose” e as taças de vinho estão pela metade. A dela tem uma marquinha de batom. Além de ser extremamente útil para identificar qual taça é de quem, uma marca de batom é algo de se admirar, especialmente quando está numa taça servida com Cabernet Sauvignon Angélica Zapata, safra 2005. Sobre marca de batom (na cueca, inclusive) eu prometo escrever em outra oportunidade.
O sofá é do estilo “podem se jogar que eu agüento o tranco”, e ambos estão virados frente a frente. Não. Não vai rolar sexo essa noite. Eles eram amigos há muito tempo, sempre conversavam sobre tudo, porém não se viam há meses. Portanto, trata-se apenas de uma noite onde as conversas seriam longas e engraçadas. Mulher engraçada é algo raro. Linda e engraçada então, nem se fala. Geralmente, pela Lei Maior da Compensação, as mulheres lindas não possuem um senso de humor aguçado.
Prosseguindo, o que ocorreu entre a chegada dela e o salto de corpos no sofá foram momentos de risadas e conclusões sobre as inúmeras mentiras da vida. Conclusões sobre as verdades não tem graça.
Para que a cena fique mais prazerosa (a despeito das mulheres que vão ler esse texto), descrevo a nossa protagonista da noite. Carismática, energia contagiante e possui todos os atributos físicos que fazem qualquer homem ajoelhar-se. Ajoelhar-se e achar que está muito bem daquela maneira. A voz dela não é sexy. A voz dela é normal, voz de mulher numa Mulher. (Para os desatentos o “ême” está maiúsculo).
Sobre o homem não vou falar nada. Não por machismo, mas sim pelo fato de não ter a habilidade de descrever um homem. Falo apenas que ele era um cara bacana, usava fio dental sabor menta, adorava futebol, apreciava bons vinhos e sabia tratar as mulheres. Pronto. Isso basta sobre o nosso rapazote.
Depois da primeira garrafa, ela propõe:
- Vamos ver as estrelas?
Impossível recusar.
Ambos estão deitados lado a lado, contemplando o aquário de corpos celestiais que a noite proporciona. Ela se vira, os olhos se encaram. O batom já não possui a cor de antes, mas ainda provoca os sentidos de qualquer homem . As risadas altas são substituídas por respirações quase mudas. A dele mais ofegante que a dela, afinal era a primeira mulher que ele ficava a sós depois de ter se separado. Foram 5 anos casado com uma loira-baixinha-possessiva-aguada, como ele mesmo sempre descrevia a ex. A trilha sonora obviamente já mudou algumas vezes, e agora traz Maxwell,“The Suite Theme”.
A Lua estava hipnoticamente conquistadora, era um holofote natural.
Eu me comunico com a Lua, sussurou ela distante agora poucos centímetros do rosto dele.
Um suspiro e ele pergunta mais com o ar de sua boca do que com a voz:
- Agora nesse exato momento, o que vocês estão falando?
- Nada..agora nada. Só antes pedi que ela testemunhasse nosso beijo pra me contar depois como foi...

terça-feira, 27 de abril de 2010

Eu a conheci enquanto esperava o ônibus após mais um dia chato de trabalho. Trabalhei naquele escritório durante 7 anos e somente naquele único dia, tive que deixar minha bicicleta porque chovia muito. Chovia de uma maneira que eu nunca tinha visto em toda a minha vida. Dizem que foi a maior enchente, desde aquela de 1941, que transformou a cidade na Veneza brasileira.
Como todo mundo que estava naquela parada, ela também estava molhada dos pés à cabeça e devia estar pensando o mesmo que todos: “que chuva de merda!”
Depois de parar de prestar atenção nas pequenas ondas que se formavam no cordão da calçada, tomei coragem e puxei assunto: “que tempinho murrinha, hein?”
Coragem eu tive, o que faltou foi originalidade.
Ela sem olhar pra mim, respondeu: “nem me fala, to ensopada...”
Subimos no mesmo ônibus e óbvio que sentei ao seu lado.
Depois desse dia, abandonei minha bicicleta e passei a usar o ônibus todos os dias para voltar do trabalho. Foi assim durante todo o tempo em que ainda trabalhei naquele escritório. Foram mais 3 anos.
São poucas pessoas que gostam de dias chuvosos. Eu sou uma delas. Por causa do maior dilúvio dos últimos tempos eu conheci minha esposa. Por causa desse dilúvio eu conheci a mãe do meu filho. Está chovendo agora. Típico dia nublado de outono. Seguro meu filho no colo pela primeira vez e quando ele crescer, a primeira história que eu vou contar vai ser porquê eu gosto tanto de dias de chuva.